Um dos maiores problemas da política ideológica que caracteriza a modernidade é a tentativa de manipulação da sociedade, por intermédio da “engenharia social”, fundada em ideias abstratas. O conservadorismo é uma reação às diferentes ideologias, sejam elas de direita ou de esquerda. Guiados pela virtude da prudência e fundados no realismo, os conservadores assumem uma postura reformista, evitando, assim, rupturas no tecido social, ao defender os usos consagrados, os costumes morais tradicionais e a continuidade histórica.
As posições moderada e realista dos conservadores, bem como sua crítica às teorias abstratas defendidas pelos ideólogos, é manifestada, também, na análise de problemas econômicos. Todas as sociedades são compostas por três sistemas autônomos e interdependentes. O primeiro é o “Moral”, que apresenta a correta definição da natureza humana e da dignidade da pessoa, ao apontar seus direitos e deveres, além de ressaltar a imperfectibilidade dos projetos humanos, de modo a evitar possíveis desvios ideológicos oriundos de visões distorcidas dos outros dois. O segundo é o “Político”, que trata das relações públicas dos cidadãos entre si e com o Estado, visto como autoridade legítima por ser o representante dos valores da sociedade e o garantidor da ordem externa da comunidade. Finalmente, o terceiro é o “Econômico”, que abrange as relações privadas de produção e trocas entre indivíduos ou grupos de indivíduos, além de ressaltar o papel limitado do governo como colaborador do desenvolvimento material da sociedade enquanto árbitro de conflitos.
No entanto, existe uma diferença entre a economia real, fruto das interações sociais entre pessoas, e as teorias econômicas, desenvolvidas com base em modelos abstratos, muitos deles orientados por errôneas concepções ideológicas. O fato de uma teoria econômica ser mais recente ou utilizar estatísticas e gráficos para justificar suas premissas, contudo, não significa que ela seja verdadeira, pois tal critério deve ser verificado pela relação dessas teses com a realidade, orientada tanto pela natureza humana quanto pelas leis econômicas.
Ao tratar de questões econômicas, um conservador razoável sabe que existem leis objetivas, derivadas da natureza humana. Assim como proposto pelo liberalismo econômico desde Adam Smith (1723-1790) até Ludwig von Mises (1881-1973) e Friedrich Hayek (1899-1992), a visão conservadora, apresentada a partir de Edmund Burke (1729-1797) e alcançando nomes como Russell Kirk (1918-1994) e Sir Roger Scruton (1944-2020), tem se mostrado favorável ao livre mercado, visto como uma instituição fundamental para resolver problemas de natureza econômica, bem como para garantir, em sociedade, a ordem, a liberdade e a justiça, além da prosperidade dos cidadãos.
De acordo com a famosa definição de Lionel Robbins (1898-1984), “a economia é a ciência que estuda as formas de comportamento humano resultantes da relação existente entre as ilimitadas necessidades a satisfazer e os recursos que, embora escassos, prestam-se a usos alternativos”. Nesse sentido, a moderna Ciência Econômica deve, essencialmente, lidar com um problema de escassez de meios em face de fins ilimitados, que surge na sociedade quando meios escassos são postos diante de fins alternativos, de modo que a utilização de certos recursos para determinados fins acarreta necessariamente o sacrifício dos demais fins, levando, assim, à renúncia de oportunidades alternativas.
Qualquer corrente de pensamento econômico, por mais sofisticados que sejam seus modelos matemáticos, que não leve em consideração a premissa básica da escassez estará a defender uma posição ideológica contrária à realidade. A pobreza é a condição natural da humanidade. Somente por intermédio do livre mercado podemos alcançar a riqueza.
Os governos não criam riquezas. A prosperidade é obra dos empreendedores. O que é verdadeiro nas finanças de um homem comum, que não deve gastar mais do que ganha, também, deve orientar a ação estatal. Não se criam riquezas com inflação, com regulamentações governamentais ou com impostos altos. A boa Ciência Econômica continua sendo a economia real, não as teorias dos ideólogos.