As ideias conservadoras, ao longo dos últimos anos, voltaram a fazer parte do debate público nacional. Em grande parte, o conservadorismo como alternativa política tem sido demandado por uma parcela crescente da sociedade brasileira. No entanto, ainda há uma grande confusão acerca da temática, o que exigirá, por parte de lideranças tanto intelectuais quanto políticas, uma busca de maior compreensão de tal doutrina.
Em oposição às visões ideológicas abstratas, às agendas progressistas e às práticas revolucionárias, que buscam romper de modo artificial e, na maioria dos casos, violento com a contínua tradição histórica de nossa civilização cristã, o conservadorismo pode ser entendido, em linhas gerais, como uma disposição de caráter que tem como principal objetivo preservar na sociedade, por intermédio de reformas prudentes, os direitos inalienáveis da pessoa à vida – desde a concepção –, à liberdade individual – dentro dos limites justos da lei –, e à preservação dos direitos de propriedade, bem como as instituições do Estado de Direito, da economia de livre mercado e do sistema representativo democrático.
Os conservadores tendem a defender um modelo orgânico de vida social, que almeja preservar, concomitantemente, a liberdade de ação com a prática das virtudes. Tal ideal orgânico de sociedade é caracterizado, dentre outras coisas, pela obediência à ordem natural, aos ensinamentos morais tradicionais e ao princípio de subsidiariedade, que são as garantias do convívio harmônico entre as classes sociais, do respeito à justiça, da salvaguarda das liberdades individuais e do desenvolvimento econômico.
Tais noções, em nossa época, não fazem parte do linguajar da maioria dos políticos, dos intelectuais, dos empresários e, até mesmo, dos religiosos, visto que parcela significativa das elites aderiu a diferentes concepções ideológicas progressistas ou revolucionárias, que distorcem o correto entendimento da realidade ao apresentar ideias erradas acerca da natureza humana e da vida em sociedade. As ideologias podem ser caracterizadas como falsas religiões, que, na busca por tomar o lugar da verdadeira religiosidade, servem como justificativas teóricas para o controle das massas por demagogos ou por tiranos, tal como ocorreu na história do século XX com as experiências tanto do comunismo soviético na Rússia quanto do nazismo na Alemanha ou do fascismo na Itália.
A utopia igualitarista das diferentes experiências de socialismo e, também, o mito do Estado Providência – este último defendido tanto pelos regimes nacionalistas e fascistas no passado e, no presente, por diversos governos intervencionistas – foram estruturados de modo artificial sobre o que restou da base moral criada pela civilização cristã ao longo de mais de mil anos. Ao defender um laicismo radical que negligencia o fato de que, mesmo o Estado brasileiro sendo laico, por um lado, a nossa legislação constitucional adota um modelo de laicidade colaborativa e, por outro, que a maioria dos cidadãos brasileiros são religiosos, os modernos progressistas tendem a minimizar a importância da religião como fundamento da cultura, da moralidade, da política e da economia.
No caso específico da economia de mercado, erroneamente denominada, inicialmente, por seus críticos marxistas, de capitalismo, o arcabouço moral e intelectual das trocas livres se encontra nos ensinamentos de importantes autores católicos escolásticos e de eminentes reformadores protestantes. A experiência histórica dos últimos séculos demonstra que as sociedades com maior liberdade econômica, além de serem as mais prósperas, são as que possibilitaram a existência de cidadãos mais responsáveis, de instituições jurídicas mais estáveis e da vida política mais democrática.
A pátria brasileira irá cumprir plenamente a vocação de ser uma sociedade próspera, justa e democrática, servindo de modelo para outros países, apenas se tivermos uma parcela significativa de estadistas conscientes da necessidade de adotarmos uma política conservadora, fundada na promoção do livre mercado e estruturada na ética cristã. Ao longo de nossos próximos artigos, pretendemos apresentar tanto visões teóricas quanto experiências históricas do conservadorismo.