Democracia partidária e eleições

A campanha eleitoral de 2022 está a pleno vapor. Sem dúvida, o nosso pleito geral impressiona pela grandeza e complexidade envolvidas no processo de planejamento e organização desse evento, que é a coroação de uma democracia.

Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral estão registrados cerca de 30 mil candidatos aos cargos de presidente da República, governadores, senadores, deputados federais, estaduais e distritais. Mas o que pouca gente sabe, é como se dá o processo de escolha desses nomes dentro dos partidos políticos para que, enfim, eles sejam ofertados nas urnas aos eleitores.

Esse processo interno dos partidos é intenso, complexo e às vezes produz desgastes naqueles que não estão acostumados com a dinâmica que rege as costuras político-partidárias, determinantes nesse processo. A expectativa de poder e a possibilidade de acesso a mais recursos para manutenção das agremiações partidárias são, muitas vezes, os fatores determinantes de definição de candidaturas ou apoios.

Essa é um contexto conhecido mais por aqueles que convivem mais de perto com os bastidores da política. No entanto, com o advento das redes sociais somado à avidez com que a sociedade tem consumido conteúdo político nos últimos anos, esse intenso processo de preparação de uma campanha eleitoral ficou exposto ao público.

A nova realidade que começa a ser percebida é que os arranjos políticos, antes restritos aos gabinetes e ambientes partidários, agora também podem ser testados junto ao eleitorado por meio das redes sociais, por exemplo. Pela lógica, o desempenho de algum postulante na internet pode acabar sendo um bom termômetro para aferir o seu sucesso eleitoral.

Ainda predomina dentro das legendas o fato de que candidatos precisam também estar alinhados, de alguma maneira, com as bandeiras do partido, e, sobretudo, com a cúpula que o dirige. Partidos são grupos políticos, e como tal, têm suas próprias regras e processos que precisam ser compreendidos. Não se trata apenas de uma entidade carimbadora de candidatos, ainda que estes sejam populares.

Não é por outra razão, que muitas vezes assistimos notícias de candidatos que, aos olhos do cidadão comum, seriam viáveis eleitoralmente, mas que simplesmente não conseguem obter do partido a legenda para concorrer a algum cargo. Isso se dá quando não há compreensão desse contexto que impede projetos mais individualistas, apartados do grupo dominante dentro da sigla.

É esse conjunto de variáveis que também explica a formação de alianças entre partidos para as eleições. Embora as coligações não sejam mais permitidas para os cargos proporcionais – deputados estaduais e federais – a existência dessa possibilidade nos cargos majoritários ainda produz alianças consideradas improváveis do ponto de vista do eleitor.

Aliás, quanto mais informado esse eleitor é, parece que tende a definir seu voto também por um filtro mais ideológico e menos imediatista. Daí o estranhamento quando se depara com alianças entre partidos de esquerda com outros de centro-direita, por exemplo.

O fato é que estamos diante de uma transição entre o modelo tradicional de democracia partidária e um novo modelo, que levará em conta uma maior participação do cidadão-eleitor, não só na hora de votar, mas também na construção do “cardápio” que será oferecido à sociedade como opções.

Esse movimento é extremamente positivo, pois vai oxigenar as práticas, renovar suas lideranças, filtrar maus candidatos e aperfeiçoar o papel das legendas no jogo democrático. Tudo isso deve ter como objetivo atender um anseio básico do eleitor que vai às urnas, que é o de poder escolher entre gente digna, séria e que represente bem as diversas correntes de pensamento presentes na sociedade.

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