Os Diferentes Conceitos de Liberdade

O clamor por liberdade é uma das mais peculiares características da política moderna, tanto no plano teórico quanto na esfera da ação. No entanto, o termo “liberdade” tem significados conceituais distintos para liberais, para socialistas e para conservadores, além de, até mesmo no interior de tais correntes doutrinárias, não ser entendido de modo uniforme.

As diferentes vertentes do liberalismo compreendem a liberdade como um fim em si mesmo. Dentre as diversas correntes mais individualistas do liberalismo, costuma ser evidenciado o moderno conceito de “liberdade individual”, ou “autonomia do indivíduo”, fator que culmina tanto em relegar ao segundo plano a importância do sistema representativo democrático quanto em priorizar a garantia dos direitos individuais, a limitação dos poderes estatais e a vigência da economia de livre mercado. No caso das tendências liberais mais preocupadas com os aspectos sociais, mesmo sem negligenciar a noção de autonomia individual da modernidade, há a busca, também, pela expansão da “liberdade política”, ou “participação dos cidadãos na política”, motivo pelo qual é enfatizada a necessidade de expansão do regime democrático como meio de preservação dos direitos do indivíduo.

Em suas diferentes manifestações teóricas, o socialismo pode ser compreendido como uma radicalização ideológica das vertentes mais revolucionárias do liberalismo, fundadas nos ideais igualitaristas e coletivistas do “democratismo” de Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), e, simultaneamente, uma negação das concepções mais individualistas apresentadas por John Locke (1632-1704) e por Adam Smith (1723-1790), tendo sido desenvolvidas por inúmeros outros pensadores liberais modernos. Desde as formulações teóricas, mais anarquistas, elaboradas pelos chamados “socialistas utópicos”, dentre os quais se destacam os nomes de Claude-Henri de Rouvroy (1760-1825), o Conde de Saint-Simon, de Charles Fourier (1772-1837), de Louis Blanc (1811-1882), de Robert Owen (1771-1858) e de Pierre-Joseph Proudhon (1809-1865), até as modernas práticas estatizantes e totalitárias, decorrentes do pensamento comunista de Karl Marx (1818-1883) e de Friedrich Engels (1820-1895), o socialismo não valoriza a moderna liberdade individual, defende o antigo conceito plebiscitário da liberdade enquanto participação dos cidadãos na esfera política, tal como adotado pelos jacobinos durante a Revolução Francesa de 1789, e, acima de tudo, submete esse tipo de liberdade aos anseios coletivistas de igualdade.

Tendo emergido a partir da reação de Edmund Burke (1720-1797) aos excessos ideológicos dos revolucionários franceses de 1789 e aos seus apoiadores liberais britânicos, como, por exemplo, Joseph Priestley (1733-1803), Thomas Paine (1737-1809), Jeremy Bentham (1748-1932) e Charles James Fox (1749-1806), o conservadorismo ressalta a importância da Liberdade como princípio fundamental da boa sociedade. Todavia, desde suas origens no pensamento contrarrevolucionário burkeano até as reflexões contemporâneas elaboradas por Russell Kirk (1918-1994) e por Sir Roger Scruton (1944-2020), os conservadores defendem que esse princípio não deve ser tomado como fim em si mesmo, sob o risco de fomentar a anárquica desordem e a injustiça na sociedade, razão pela qual ressaltaram a necessidade de a Liberdade ser equilibrada com os preceitos de Ordem e de Justiça.

Assim como a justiça é compreendida em seus aspectos comutativo e distributivo, ao passo que a ordem é entendida tanto em seu caráter moral no interior da alma da pessoa quanto em seus aspectos políticos no exterior da sociedade, os conservadores defendem uma noção de liberdade que engloba tanto as noções moderna de “autonomia do indivíduo” e antiga de “participação dos cidadãos na política” quanto o ideal mais elevado de “liberdade interior”, ou “autotelia”, tal como expresso pela filosofia estoica, pela tradição religiosa cristã e por alguns filósofos morais da época moderna.

Uma sociedade que almeje ser livre e próspera necessita, também, buscar ser virtuosa ao repelir os riscos da anarquia, do relativismo moral e do hedonismo. Mais do que por intermédio do ordenamento institucional político, não obstante, a implementação da liberdade ordenada e da justiça em uma determinada comunidade será possível apenas se seus membros cultivarem interiormente os ditames das virtudes.

faça parte da fundação

Inscreva-se e faça parte como um membro da Fundação. Contamos com seu apoio e participação.